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Quem Pode Dançar?

Os estereótipos que envolvem o universo do "encantador Balé Clássico" levantam uma dúvida: Quem pode Dançar Balé?

Quem Pode Dançar?
Thabata Castro
Por: Thabata Castro
Dia 19/08/2020 13h07

É muito comum recebermos pessoas que não acreditam que podem fazer parte do universo da dança, mas quando o assunto é o “encantador” Balé Clássico, o tabu é ainda maior.

Existe uma preocupação, já ultrapassada, de muitos adultos com os estereótipos, isso nos faz deparar com pais que consideram seus filhos velhos demais, gordos demais, magros demais, altos demais, baixos demais, desajeitados demais, tímidos demais ou agitados demais para dançar o estilo. Esses questionamentos não estão restritos aos pais, acontecem até mesmo com os adolescentes, reforçando ainda mais o tabu.   

A DANÇA É PARA TODOS!

Na Sintonia, sempre que nos deparamos com um questionamento do tipo “será que meu filho acompanha?” ou que enfatiza alguma característica física ou intelectual do aluno, logo dizemos “a dança é para todos que a queiram”, basta muita dedicação e força de vontade! 

Claro que existe uma grande razão para as pessoas se sentirem "com medo" de aprender o balé. Durante muito tempo existiu um padrão criado pela imagem da bailarina clássica européia: branca, alta, de longas pernas e de corpo esguio.

Qualquer outra menina que minimamente fugisse desse padrão, já não “servia” para ser bailarina. Essas alunas fora da curva (que na minha opinião, pelo menos aqui no Brasil, representam a maior parte de uma turma) eram sempre descartadas no fundo da sala e dos palcos e ignoradas por professores, coreógrafos e diretores. Algumas poderiam até ser mais dedicadas e potentes em relação à técnica e expressividade do que as com o “físico perfeito”, mas sequer poderiam sonhar com uma oportunidade no balé clássico. 

A REALIDADE DO BALÉ ATUALMENTE

Dito tudo isso, vem a pergunta, essa realidade mudou? Não como deveria, mas hoje já vemos mais discussões e questionamentos sobre esse padrão totalmente exclusivo. O mundo tem desafiado mais esses padrões, e na dança, isso também vem acontecendo (mesmo que a passos de formiguinhas). Ainda bem, né? 

Os padrões mencionados acima são os que “todo mundo vê”, mas ainda existem outros, bem específicos, que são mais conhecidos por quem já teve pelo menos um pouco de contato com o universo das danças cênicas.

Deveríamos saber que um bailarino precisa SER muito mais do que TER “linhas perfeitas”, en dehors de Curupira, um alongamento rasgado, girar 32 fouettés na ponta, ou encostar o pé do atittude dehière no pandeiro. Deveríamos saber também que técnica é uma forma de organizar o corpo (todo o corpo), e que serve como ferramenta para ampliar nossas possibilidades de movimentos e não para nos limitar ainda mais. 

TODO CORPO TEM SEU ESPAÇO NA DANÇA

Já que ainda precisamos lutar contra esses paradigmas, é necessário incentivarmos todos esses diferentes corpos a encontrarem e a ocuparem o seu espaço em qualquer que seja a dança. Precisamos fazer isso desde a infância, já estimulando as crianças a enxergarem, principalmente o balé clássico, como uma dança democrática e desassociá-lo da imagem de um mundo cor de rosa habitado apenas por princesas e príncipes. 

Nesses últimos tempos, li dois livros infantis que abordam temas como esse, e foram eles que me fizeram enxergar a necessidade de falar, refletir e discutir sobre esse assunto com mais pessoas, e não somente dentro da Sintonia Escola de Dança.

 

Um dos livros é o “Cachorros não dançam Balé” de Anna Kemp, que conta a história de uma menina que tem um cachorro que ama balé e acredita ser uma bailarina, mas que nunca consegue mostrar a sua dança, pois para todo mundo “cachorros não dançam balé” imagina só, quantos corpos, quantas pessoas amam o balé ou qualquer outro estilo de dança, mas não aprende ou se entrega por julgamentos alheios? 

E o outro livro é o “Da raiz do cabelo até a ponta do pé” de Emília Nuñez, que conta as inseguranças, os medos e as expectativas de Nandoca na sua primeira aula de balé clássico.

Os dois livros são lindos e vale muito a pena ler e contar para as crianças, ensinando a elas que até podemos ter corpos, tempos e cognições diferentes, mas isso não é motivo para termos os nossos sonhos diminuídos ou limitados por alguém. 

Antes de encerrar este artigo, deixo aqui uma contribuição para meus colegas de profissão, os professores de dança: Esses livros citados podem também inspirá-lo a sempre guiar, orientar e buscar junto aos seus alunos, possibilidades para fazer esses sonhos se tornarem realidade, livre de estereótipos! 

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